"É natural que os outros tenham sempre razão, pelo simples facto dos outros serem cinco biliões (ou lá o que é) menos um e de eu ser apenas esse um. Ser influenciado é assim um reconhecimento da nossa pequena participação no mundo e da riqueza interminável desse mundo; é um acto alegre de humildade; um sinal enérgico de dependência humana"
Miguel Esteves Cardoso.
Confesso que ontem à noite estava chateada, furiosa por assim dizer.
Estava a gostar tanto do álbum, das músicas que estava a receber, tanto desta experiência…mas depois chegou a My Sun...
Ao ler o que o SoFree comentou sobre o que tinha escrito, pensei muito, pensei mesmo. A My Sun soou-me a Arcade Fire, é verdade, mas o problema não estava aí. Eu gosto dos Arcade, e acho a My Sun uma boa música. Aquela piada sobre o Ipod era só uma forma de introduzir um pouco de humor no blog. Acho que falta humor neste nosso mundo.
O problema não estava aí.
Pensei muito na questão do alinhamento e do facto de receber uma música por dia, ainda por cima sem seguir o alinhamento original do álbum. Pensei muito nesta nova forma de ouvir um álbum. Por exemplo, sei que hoje vai haver milhares de pessoas a ouvir a mesma música num mesmo momento, isso acontece todos os dias, é verdade, mas não da mesma forma. Eu estou ali no meio dessa multidão a fazer o mesmo. Se isso é bom ou mau, não sei bem. Se calhar não gosto de fazer parte de multidões. Eu gosto de individualidade, a não confundir com individualismo.
Os the Gift estão a mostrar-me um caminho para este álbum, caminho esse que tenho obrigação de seguir, não tendo outra hipótese. E se não me apetecer ouvir a My Sun depois de ter descoberta a Mermaid? A primeira audição de um álbum é fundamental para mim (em quase todas as vezes vai formar a minha opinião sobre o mesmo). Aqui, a escolha não é minha. Não sou eu a decidir onde e como vou ouvir a música. Estou a ouvir cada uma das músicas em casa, frente ao computador e por volta da meia-noite. Isto tudo está a formar a minha opinião sobre o álbum.
Foi aí que pensei que tinha dificuldade em deixar-me ir. Nunca fui uma pessoa de preconceitos sobre o que quer que seja, não gosto disso, aliás odeio os preconceitos. E aqui estou cheia de preconceitos. Eu quero ouvir o álbum que já estava na minha mente. Eu já o tinha imaginado antes dele sair. Tinha que estar lá aquilo que gosto nos The Gift. Queria ouvir a voz da Sónia poderosa, como muitos de nós.
Ouvi ontem à noite a Let it Be By Me.
Primeira reacção: Ok, não está lá a voz da Sónia. Não me apetece ouvir mais. A minha opinião sobre a música já estava formada antes de dar qualquer outra oportunidade. Será que com outra banda, teria feito o mesmo? Muito provavelmente. Mas aqui não se trata de outra banda qualquer. O problema é que os The Gift foram durante muitos anos a banda sonora da minha vida, e eu desejo que este álbum o seja também. Lembro-me o que escrevi sobre a The Singles. “O Nuno consegue levar-me por onde eu não quero ir.“ Será que é mesmo verdade?
Foi então que decidi ouvir novamente a Let it Be by Me. E não é que adorei? Despida de todos os preconceitos que tinha sobre o que EU queria ouvir neste álbum. O dia estava lindo. Às vezes não devemos pensar muito.
Com Explode não devemos partir à descoberta, se nessa procura já temos a ideia do que queremos encontrar.
É só deixar-nos ir.
Nota para mim: Isto é só um blog, isto é só musica.
4 comentários:
tens tda a razão, lafolie...
keep breathing
Se o vosso ritual pelas manhas é ouvir mais uma canção. o meu ritual antes de ir dormir, é ler-vos neste blog. leio tudo, respeito tudo e do fundo do coração só tenho que agradecer a vocês. ter um publico tão intlectualemnte evoluido é prova que os The Gift são realmente unicos, especiais, inconfrmados, gritados, chorados e alegres. chegámos ao meio...
esperem pelo fim...
nuno gonçalves
LaFolie, é engraçado como este teu pensamento de ontem serve tão bem para mim hoje.
Todas as vezes que sai uma nova música, olho para os buracos do "puzzle" e tento imaginar o que lá se esconde. Estamos a ser conduzidos por um alinhamento diferente do de quem pegar no CD pela primeira vez.
E penso que tens toda a razão em relação aos preconceitos.. eu às vezes penso que se o Explode fosse aquilo que eu "gostaria" que fosse, ia acabar por não gostar nada e reclamar que era só mais do mesmo...
lafolie, mesmo assim a escolha de querer ouvir as músicas pela ordem que nos mandam é nossa. mesmo sendo muito dificil resistir a ouvir logo que a próxima música chega. :)
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