Silêncio. É noite.
Sou sombra recortada no escuro de uma sala.
Sentado num cadeirão antigo de pele gasta e frio. Fumo o fumo de um cigarro há muito aceso e bafejo nuvens que dançam na contraluz da luz cinza do ecrã da televisão a preto e branco. A emissão terminou faz tempo, mas continuo a olhar fixamente.
Do meu lado esquerdo, uma janela abre-se para o exterior de luzes já apagadas, deserto, e que me traz o cheiro de calor húmido. Choveu há pouco. É para lá que olho, agora que a televisão foi desligada.
Inspiro mais uma vez o fumo do cigarro, ainda a fixar a rua. Sinto-me leve e quente.
Há um frufru repentino a meus pés.
Reparo que jazes a meus pés, ainda no mesmo sítio. O teu corpo nu adormecido, apenas coberto pelo manto branco, suave em que te envolvi.
Apago o cigarro.
Enrolo-me sobre mim e continuo a fixar a tua imagem até que me deixo cair no sono.
Sei o que sonhas e sonho contigo.
2 comentários:
Lembraste-me o início da Aparição, não sei bem porquê.
Bem.... demorou a chegar, mas valeu mesmo a pena! Adorei o cenário que descreveste :)
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